

Não se pode brincar com tudo e nem toda ideia é brilhante
Nem tudo pode ser utilizado para engajar sua marca, mesmo que ainda não tenha sido feito, mesmo que o resultado seja negativo, por isso, vamos falar sobre o caso Gillete.


Com certeza você já deve ter visto a nova campanha da Gillete, e dessa vez não é algo tão simples ou um produto tão inovador para a depilação da mulher melhorar e não ter tantos problemas como foliculite, alergias e cortes. Mas sim, temos um mascote para vender praticamente os mesmos produtos de sempre.
E o que há de errado nisso com tantas marcas criando o seu mascote IA?
Temos aqui diversos problemas, que vai desde o briefing até a aprovação, como também, existe a gravidade de um assunto tão delicado como a intimidade e saúde da mulher.
Vamos começar pelo principal deles ninguém do inicio ao fim ter pensado o quão ofensivo isso poderia ser para inúmeras mulheres. Já que um dos assuntos mais delicados para todas as mulheres foi completamente infantilizado e até mesmo ter virado uma piada nas mãos de uma marca.
Por mais que muitas mulheres entre amigas já tenham feito alguma piada ou brincadeira da mesma forma que a Gillete esteja realizando, nos não fazemos o mesmo quando escolhemos uma marca para depilar ou conversamos com um médico e até mesmo falamos sobre o assunto com nossas filhas.
Mas no momento que uma marca ridiculariza o assunto colocando a PPK da Cláudia para vender Gillete da forma mais banal possível, faz com que todas as outras pessoas continuem ridicularizando através de pensamentos machistas tudo aquilo que muitas mulheres vem trabalhando até agora durante séculos: O respeito a mulher sua intimidade e a sua saúde.
Por mais que existam divergências médicas sobre a depilação feminina, pois há médicos que dizem que a depilação faz parte da higiene intima e outros que falem que isso é apenas um mito. Deve sim existir um limite para esse tipo de propaganda.
Além disso, com o lançamento da PPK da Claudia e a nova linha pink da Gillete os preços da marca feminina aumentaram bastante e estão mais caros que a linha masculina - que faz exatamente a mesma coisa. Por isso, penso que deveria haver um limite também paras as altas taxas em cima de produtos que deveriam ser unissex como a Gillete. Mas a pessoa a frente da abusividade do preço e do marketing da Gillete tentou justificar tanto o preço quanto sua nova influenciado polêmica, só que dentro da minha visão e ética profissional não existem justificativas para tal comportamento da marca utilizar a tal Pink Tax - a famosa taxa rosa que muitas pessoas desconhecem, mas toda marca aplica em produtos unissex - e uma Influenciadora tão polêmica desta forma.
Também não posso deixar de falar aqui o impacto que isso não está sendo na vida das Claudias por ai, e aposto que não vai ou está positivo. Quantas Claudias não estão sendo chacoteadas em escolas, trabalho, cursinho, em casa e até mesmo na família?! E o quanto dessa chacota está sendo bem aceita?
Por mais que muitos venham a falar isso dentro da profissão: “Não existe engajamento negativo, mas sim engajamento.”
Neste caso não posso concordar.
Sabemos que existem diversos fatores para campanhas, principalmente aquelas que querem causar um grande burburinho entre as pessoas para que ela tenha uma reação tão grande que mesmo negativa, chame a atenção de todos para aquele produto ou serviço. Só que aqui, a Gillete não está só tentando um burburinho, mas está se aproveitando da tal linha pink para tirar mais dinheiro das mulheres, e quando eu digo mulheres eu incluo até mesmo a quem se identifica ao gênero e que provavelmente se sentiu incomodada com isso, pois não é um assunto que eu quero ver em uma propaganda da forma que está sendo feita.
Mais difícil ainda é saber que isso passou na mão de tanta gente, e ainda foi aprovado…
Fica aqui algumas perguntas:
Será que a marca antes de publicar fez uma pesquisa quantitativa e qualitativa com um numero significativo de mulheres?
Será que nenhuma mulher envolvida na campanha se sentiu mal com ela?
O quanto uma marca pode fazer para ganhar atenção e engajamento do publico?
Usar a parte intima de uma mulher de uma forma tão frívola é valido?
Porque a linha pink tem esse tipo de influenciadora IA e a linha masculina não?
Usar o nome de uma pessoa que vai virar chacota pelo Brasil todo, é válido?
Infantilizar a intimidade das mulheres e daquelas que se identificam também é válido?
O que é realmente valido dentro da ética da propaganda e do marketing digital?
Como nosso título diz, nem toda ideia é brilhante, e nem tudo deve ser aceito por mulheres que querem seu lugar no mercado com respeito e dignidade., e não da o direito de uma marca ridiculizar milhões de mulheres pelo Brasil porque brincamos assim com amigas em nossa intimidade.
A Gillete tem o seu direito de criar uma Influenciadora ou um Influenciador IA e conter gastos com influenciadores? Sim tem, mas com respeito como todas as marcas tem feito, sejam para as mulheres como também para os homens.